Não sei se a sociologia e a antropologia se debruçam sobre o aspecto comportamental-psicológico-social do transporte público nem mesmo se existem estudos sobre o assunto mas tenho pra mim que andar de ônibus é uma experiência antropológica das mais enriquecedoras: todos os tipos de pessoas e situações cabem nesse tipo de veículo. Durante meus anos de graduação, no maravilhoso 420 T Barra-Nilópolis, onde já apanhei por ser bem educado(qualquer dia conto essa história aqui) e onde já quase morri incinerado algumas vezes(prefiro não contar essa) tive alguns desses momentos de puro maravilhamento com a diversidade da experiência humana.
Num dia qualquer saindo da faculdade, entrei no ônibus e, como de costume, fui à caça do meu lugar pra sentar que encontrei ao lado de uma senhora vestida de preto. Sentei, coloquei meus fones de ouvido e, antes do fim da primeira música, comecei a ouvir uns sons agudos vindos da mulher do meu lado. Por pouco tempo achei que ela estava passando mal, mas logo percebi que ela estava na verdade cantando. Pensei comigo: “Beleza, ela se empolgou nessa música, já já para.” Mas, pra minha surpresa(e de todo o ônibus), ela não parou e pelo contrário, começou a cantar a música seguinte mais alto ainda. Tentei me convencer de que a viagem seria rápida e que eu chegaria depressa em casa quando fui lembrado por um engarrafamento na Via Dutra que tinha entrado no ônibus às 4 da tarde de uma sexta-feira, ou seja: não chegaria tão cedo em casa.
Depois de alguns minutos no engarrafamento, uma forte chuva começa e a maravilhosa vedação do 420T permite que a água passe pela janela. Qual não foi a minha surpresa ao ver que a nossa nova revelação da música parou de cantar por um minuto e retirou da sua bolsa uma gigante sacola plástica preta que usou para cobrir a entrada de água. Pensei na hora: “Realmente andar de ônibus ensina um pouco de MacGyverismo a todo mundo”. Já ia agradecer aos céus e respirar aliviado por ter meus ouvidos aliviados daqueles agudos mais estridentes que os do Axl Rose quando, depois de reparado o pequeno problema técnico, nossa artista retoma o show.
Mesmo com todo o ônibus olhando com ar de reprovação, ela seguiu olhando pra janela e fazendo sua apresentação. Ia lançar meu olhar intimidador pra dona, mas lembrei que os meus não são muito eficientes. Então segui até o meu ponto com um show particular de música gospel: quase três horas ampliando meu espectro musical e sendo inteirado das novidades gospel e perdendo uma porcentagem da audição a cada agudo dela.
Deveria ter gravado um vídeo e enviado para a produção do The Voice, com certeza ela entraria no time da Cláudia Leitte na época.
Linhas paralelas
Textos e links que cruzaram meu caminho no infinito da rede esses dias.
Abraços e até depois!
diego b
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