mais uma vez um policial me parou
documentos por favor
perguntou a mim
quem é você?
respondo assim
nasci do lado errado da linha do trem
sou um desconhecido
eu não sou ninguém
mais velho de 4 filhos
vez ou outra esquecido
aprendi a contar compasso
com pandeiro e esculacho
trabalhador desde pequeno
aprendi a andar ligado
depois do fuzil na bochecha
identidade na mochila
“seja sempre bem educado”
cresci com medo de deus
até entender que ela sou eu
e posso cruzar linhas
com lápis, papel e sonhos
que ninguém alcança
crio cidades
crio céus
digo que haja luz
atravesso o entreverso
para criar mundos
à minha imagem e semelhança