Ouvindo música na velocidade da internet | Insanidade Artificial #20
Ou: eu não consigo prestar atenção em tudo
Música é um componente importante da minha vida. Estou sempre de fones de ouvido enquanto trabalho, nos momentos de relaxamento também coloco um som pra tocar, arrisco tirar alguma coisa do teclado ou na percussão sempre que posso e regularmente estou falando sobre música pessoalmente e na internet, seja aqui na newsletter, no twitter ou instagram. Por estar tão ligado à música, tento escutar as coisas de uma forma mais consciente, com bastante atenção pra poder sacar as nuances e entender de fato o que eu tô ouvindo.
O lado ruim de consumir música de uma forma que não é só ouvir pra dizer se achou bom ou ruim e depois partir pro próximo álbum é que esse está sendo um dos anos em que eu mais fiquei ligado nos lançamentos e mesmo assim deixei passar um monte de coisa e isso de algum jeito começou a me incomodar. Não que eu tenha a pretensão de dar conta de ouvir tudo o que é lançado em todos os gêneros musicais, mas parece que a pequena amostra que eu pego nesse universo ainda não é suficiente e direto sou surpreendido com coisas que aparentemente estão fazendo muito sucesso e não chegaram até mim. Eu tento ouvir as coisas com calma e mais de uma vez, mesmo o que não me pega de primeira pra tentar entender o que tem rolado no mundo da música e tal mas sinto que dessa forma fica mais difícil ainda ficar ligado no que sai e fico meio desesperado quando alguém menciona um artista ou álbum que eu não conhecia, o famigerado Fear Of Missing Out.
Mesmo num esforço consciente de conhecer um pouco de tudo não dá mesmo pra absorver o tanto de informação musical que tem por aí e formar uma opinião mais elaborada e sinto que muito do que se produz no quesito de crítica musical seja em posts de redes sociais e até na mídia especializada, no geral acaba ficando nos extremos: ou o álbum é maravilhoso, icônico, explodidor de cabeças ou é o puro lixo e a impressão que fica é que esses comentários todos saíram das primeiras impressões porque é simplesmente impossível que todo álbum e toda música que é lançada nesse universo cada vez mais frenético seja incrível ou terrível, sem nuances no meio disso tudo. Uma análise mais aprofundada e uma ou mais audições cuidadosas revelariam falhas nos lançamentos classificados como ótimos e virtudes no que é tido como péssimo.
Falo isso sobre música que é uma coisa que vivo mais intensamente, mas dá pra expandir o raciocínio pra qualquer outra forma de mídia que esteja disponível na internet e inevitavelmente recebe um juízo de valor hoje em dia. Ao pegar apenas uma parcela pequena da informação e, sem refletir muito, já categorizar aquilo numa caixinha de “lindo perfeito” ou “lixo flopado” e depois partir pro próximo fragmento de informação e repetir o processo, a gente acaba perdendo a riqueza de uma experiência mais profunda e, com o volume cada vez maior de informação e coisa nova acontecendo a todo instante, a tendência é fazer dessa forma acelerada e rasa de consumo de música, arte e informação o padrão definitivo pra apreciação estética. Gostaria de ter uma boa conclusão e uma alternativa a isso mas, por enquanto, vou finalizar esse texto e ouvir mais uma vez o The Land Is Inhospitable and So Are We da Mitski pra tentar entender por que esse álbum tem me deixado tão emocionado.
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