O dia em que eu apanhei por ser bem educado | Insanidade Artificial #45
Crônicas do transporte público
Quem me conhece sabe que eu sou um cara bonzinho e bem educado. Não digo isso pra me gabar, muito pelo contrário, meu desejo de agradar a maior quantidade de pessoas possível quase sempre me leva a situações complicadas. Essa é uma delas.
Quando estava na graduação certo dia voltava pra casa no maravilhoso ônibus 420T Barra – Nilópolis e sentei ao lado de uma senhora que dormia como uma pedra não importando a velocidade Dominic-Torettística que o motorista aplicasse em suas manobras pelo Rio de Janeiro.
A viagem seguia tranquila ao lado da senhora em aparente estado de coma quando entra um calouro de arquitetura(facilmente reconhecível pela imensa quantidade de material em bom estado de conservação que carregava consigo). Como bom rapaz que sou, vendo que não havia lugar para o jovem calouro, ofereci-me para segurar seu material. Peguei a pasta A3 e a sacola em que carregava uma maquete e coloquei delicadamente sobre minhas pernas.
Logo após acomodar o material do calouro, a senhora que dormia ao meu lado, apoiou seu cotovelo sobre a pasta A3 e seguiu nessa posição até o momento em que, passados alguns pontos, um assento fica vazio e o calouro se dirige até lá. Ele pega suas coisas, me agradece e vai sentar. Porém, no instante em que ele pegou sua pasta A3, a mulher, que estava sobre ela, se desequilibra e acorda, me olhando com cara de poucos amigos. Percebendo a irritação da senhora, digo:
– Desculpa, senhora.
Ela faz um barulho incompreensível com a boca parecido com um grunhido e se volta para a janela. Passados mais alguns pontos, ela olha para mim e diz de forma ríspida:
– Vou descer no próximo.
Imediatamente, giro meu corpo no assento para dar passagem à mulher e, quando fico totalmente de costas para ela, recebo uma surpresa inesperada: ela me dá um pescotapa tão forte mas tão forte que me fez ver estrelas como nos desenhos animados. Não entendendo o motivo da violência, olho para a senhora com ar de interrogação. Ela então diz, num tom irritantemente irônico:
– Desculpa, garoto.
Depois de dizer isso, vai em direção à saída do ônibus andando firmemente sem olhar pra trás.
Fiquei sem reação, apavorado sobre como as pessoas se irritam com qualquer coisa. Mas aprendi uma valiosa lição: nunca tirar uma senhora do reino dos sonhos contra a sua vontade. Agora, toda vez que pego um ônibus fico de olho na posição dos cotovelos de quem está ao meu lado. Afinal, nunca se sabe quando você pode tomar uma porrada com bastante educação.
Linhas paralelas
Textos e links que cruzaram meu caminho no infinito da rede esses dias.
Abraços e até depois!
diego b
[twitter]
eu ri alto!! hahahah