Nota sobre as notas de Jeff Buckley | Insanidade Artificial #23
O que é tocar bem pra um músico?
Fui educado musicalmente com música clássica, gospel e heavy metal, o que significa que a técnica durante muito tempo pra mim foi um fator importante pra na apreciação de uma música, artista ou banda. Mesmo quando era pequeno sem entender muito de música, ao começar meus estudos no piano, a ideia de tocar acordes cada vez mais difíceis e de forma mais rápida sempre foi algo que eu persegui ainda que inconscientemente. Anos depois aprendi a tocar outros instrumentos e geralmente os caras que me fizeram querer aprender um instrumento foram os super virtuosos naquilo que faziam.
Mesmo ouvindo os maiores e mais conceituados guitarristas do mundo, o único cara que me dá muita vontade de aprender a tocar guitarra algum dia é o Jeff Buckley e isso tem muito pouco a ver com demonstração de técnica no sentido mais exibicionista do termo. O mais louco disso é que quem gosta de ouvir solos mirabolantes e progressões bizarras geralmente torce o nariz pra ele, mas ele era um músico que tocava com tanto sentimento que é impossível não se sentir impactado por alguma música dele.
Tudo o que ele tocava tinha relação direta com a letra da canção e gerava umas soluções muito criativas pra resolver a estrutura da música. Tipo em “The Sky Is A Landfill” quando quebrava o compasso da guitarra num momento inusitado só pra encaixar um verso da letra com uma métrica ligeiramente diferente. Ao mesmo tempo, é muito orgânica a forma como isso acontece. Não tem forçação de barra mas sim uma integração suave entre o sentimento que a letra está passando e o mood instrumental.
Não tinha nada de muito complexo em termos de estrutura no que ele fazia mas essas sacadas pequenas de fazer um fraseado louco no meio de uma harmonia simples só porque a letra pedia demonstra um domínio absurdo de teoria musical sem exibição vazia de virtuosismo em momento algum. Ele não botava quinhentas notas por segundo mas colocava as notas certas no momento certo pra passar um efeito específico e isso é uma coisa que muito fritador do metal não sabe fazer. Por isso que sempre piro ouvindo as músicas dele, ser músico é servir à música e poucos fizeram isso tão bem como esse guitarrista.