A tia da limpeza do CEFET | Insanidade Artificial #21
Este não é um post sobre cocô porque meu furico é caseiro e eu escrevi o texto no ônibus.
Nos idos anos de 2009, quando comecei meu curso técnico em edificações não entendia muito bem do funcionamento dos trens e sempre me confundia nos horários. Some-se a isso o fato de que era meu primeiro ano do técnico e não queria chegar atrasado, o resultado disso era que eu chegava sempre uma hora e meia antes do início da aula.
Sempre chegava por voltas das 6 da manhã e ficava esperando do lado de fora e olhando com cara de cachorro que caiu da mudança para o segurança que dizia que só podia abrir os portões às 6:30.
Outro fato que vocês precisam saber para compreender melhor essa história é que, como estudava em um colégio federal, tinha direito à gratuidade e a Supervia(empresa que “cuida” dos trens no Rio) exigia que eu estivesse trajando o uniforme da minha instituição de ensino. Como fazia o ensino médio no Colégio Pedro II e o técnico no CEFET, tinha que ir vestido com o uniforme do CPII para poder ter direito ao meu bilhete da passagem de trem. Por isso sempre chegava ao CEFET com a camisa do CPII e me trocava lá.
Sempre que ia trocar o uniforme, o banheiro ainda não tinha sido limpo e, não sei porque diabos SEMPRE havia cocô nas privadas de todas as cabines.
Trocava de roupa e encontrava a tia da limpeza, uma senhora muito simpática a quem eu sempre cumprimentava com um bom dia.
Enfim, isso se repetiu basicamente durante todo o meu primeiro período. Porém depois de um tempo, a tia começou a me olhar de cara feia sempre que saía do banheiro e a cumprimentava. Achava esquisito mas pensava se tratar de uma má fase na vida ou algo parecido, nunca se sabe a batalha que a pessoa está enfrentando em segredo ou sei lá.
Certo dia, ainda chegando cedo, deparei-me com a porta fechada e uma situação, no mínimo, diferente do habitual: a tia da limpeza estava a conversar com o segurança.
Comecei a prestar atenção na conversa exercitando a leitura labial e entendi do que se tratava: a tia estava falando mal de mim. Pelo que meu astigmatismo ainda não diagnosticado conseguiu detectar via a tia da limpeza apontando pra mim e dizendo:
– Tá vendo aquele moleque ali com uniforme de outra escola e mochila colorida nas costas? Todo dia de manhã ele vai lá cagar EM TODOS OS BANHEIROS antes de eu limpar! E ainda vem com sorrisinho no rosto me dando bom dia depois que sai.
Fiquei em choque e comecei a me questionar algumas coisas.
Primeiro: Como ela poderia ter raiva de mim, que sempre a tratou com todo o respeito?
Segundo: Por que raios ela pensava que eu cagaria em TODAS as cabines TODO DIA no mesmo horário? Que intestino é esse?
Terceiro: Quanto Activia™ eu precisaria consumir para conseguir tal façanha diariamente?
Chegado o horário certo de o segurança abrir as portas, entrei como sempre fazia. Mas encontrei a tia da limpeza antes de entrar no banheiro. Falei com ela:
– Bom dia, tia! Vou só trocar a camisa ali dentro rapidinho e já já deixo a senhora limpar, ok?
Percebi que ela ficou corada pois notou que eu tinha “escutado” a sua conversa anterior. Ela gaguejou um bom dia e eu entrei no banheiro.
Estranhamente, depois desse dia, nunca mais a encontrei limpando os banheiros próximos à entrada nesse horário e eu passei a sair de casa de manhã cedo só depois de ter evacuado pra evitar qualquer possibilidade de interditar um banheiro inteiro de escola pública.