Vince Staples – Big Fish Theory | Insanidade Artificial #35
Um olhar sobre esse álbum de 2017
A personalidade de Vince Staples é cheia de aparentes contradições: um cara que está sempre opinando sobre o que diz não dar a mínima e alguém que em suas letras critica as estrelas do rap enquanto trilha um caminho que o leva cada vez mais pra perto disso. Seu trabalho de 2017, Big Fish Theory leva essas dualidades a um novo nível, trazendo seu olhar crítico e afiado sobre tudo o que o cerca usando batidas techno perfeitas pra qualquer pista de dança.
A primeira faixa “Crabs In A Bucket” chega com os dós pés no peito logo de cara. A metáfora do caranguejo dentro do balde diz que se você coloca um caranguejo dentro do balde, ele logo de cara vai tentar escapar mas quando há dois ou mais, eles vão começar a se agredir para ver quem fica no topo. Na mitologia de Vince Staples, essa metáfora representa o universo do hip hop como um todo, onde o tempo todo um novo nome surge e quem já estava lá dentro faz de tudo para o derrubar. Enquanto eles se matam, quem ganha é o homem branco que faz circo disso tudo. No final da faixa, percebemos o cansaço de Vince Staples por ter que fazer parte disso (Drowning in my own ocean/I forgot to care/I ain’t never had no chance to breathe). Essa canção estabelece toda a carga do álbum usando um instrumental preciso com um baixo bem marcado e um bumbo-caixa sintetizado que monta a atmosfera que a letra pede.
Na sequência, vemos toda a ironia e contradição de Vince que, depois de ser super agressivo e crítico na abertura, traz uma parcela de total alienação e despreocupação com o que acontece no mundo. “Big Fish” traz a ostentação cantando que passou a noite toda curtindo e gastando dinheiro. No instrumental, ela traz toda a tradição do funk californiano dos anos 90 num arranjo bem contemporâneo com pitadas de techno, fazendo a música ser pronta pra qualquer balada.
O baixo é o elemento de coesão em todo o álbum, presente fortemente tanto nas faixas mais dançantes como nas mais conceituais e viajadas. “Alyssa Interlude” e “Love Can Be…” são bem complementares e apresentam uso do baixo de formas totalmente diferentes, trazendo um peso emocional na primeira e fazendo a cama pra algo mais futurista na combinação com teclados e backing vocals da segunda. Às vezes, as linhas de baixo acabam por cobrir o que Vince canta mas, uma vez que os elementos do lore do álbum já estão estabelecidos, é difícil não pensar que isso foi proposital como se o que ele tivesse a dizer não fosse tão importante quanto fazer um bom beat.
Brincando com os limites do que é permitido ou não, Vince faz Big Fish Theory como uma obra de arte conceitual na pista de dança e um som de balada dentro de um museu ao mesmo tempo, com um niilismo que transita entre atacar todo mundo e se esquecer de tudo enquanto apenas curte o momento.